Mudança de estratégia? Nova geração? Inédita versão elétrica? Todas essas perguntas passaram pela redação do Motor1.com Brasil quando flagramos o Citroën C3 europeu em registros no INPI, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Já sabíamos que a Stellantis havia separado o C3 em uma linha europeia e derivada de um desenvolvimento em conjunto com a Índia, oferecida no Brasil.
Então chega como surpresa o registro do Citroën C3 europeu em terras brasileiras. A Stellantis não tem nada confirmado para cá e o hatch do Velho Continente, mesmo usando a mesma plataforma Smart Car Platform do carro brasileiro, pouco tem de semelhança com o C3 fabricado no Brasil. A começar pelas medidas.
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Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
O Citroën C3 da Europa tem 4.015 mm de comprimento, enquanto o brasileiro mede 3.981 mm. Essa diferença se dá pelo mercado indiano, onde carros com mais de 4 metros de comprimento estão sujeitos a tributações mais pesadas. A largura também é diferente: 1.813 mm no europeu contra 1.733 mm do brasileiro. Por compartilharem a plataforma, ambos têm o mesmo entre-eixos: 2.540 mm.


O visual externo também se difere, com o C3 da Europa adotando detalhes mais complexos nas linhas e um visual mais quadrado, passando uma impressão maior de altura no geral. O modelo brasileiro é visivelmente mais simples. A cabine também traz grandes diferenças. O C3 nacional tem um minúsculo painel de instrumentos digital em posição convencional e um acabamento condizente com seu preço. Ou seja: simples. O modelo europeu recorre à solução da Peugeot, com volante de raio reduzido e um conjunto de instrumentos maior e mais moderno instalado em posição elevada.


Motorização é a grande diferença
Por aqui, se você quer comprar um Citroën C3 tem duas opções, ambas 1.0 flex: aspirada com até 75 cv e câmbio manual de cinco marchas ou turbo com até 130 cv e transmissão automática CVT. O catálogo europeu para o hatch é mais diverso. A gama começa com o 1.2 turbo 3-cilindros com 100 cv de potência. Esse propulsor ainda pode ser acoplado a um sistema híbrido-leve de 48V ganhando 12 cv extras e passando dos 20 kgfm de torque graças ao motor/gerador elétrico (5,5 kgfm a mais).
No entanto, a opção mais interessante é o ë-C3, a variante elétrica do hatch da Citroën na Europa. Reconhecido pela imprensa do Velho Continente como um dos melhores custo-benefício entre os elétricos de lá, o hatch movido a baterias tem preços partindo de cerca de 23 mil euros, ou cerca de R$ 144,2 mil na conversão direta.
Nessa configuração, o Citroën ë-C3 é equipado com uma bateria LFP de 44 kWh de capacidade que, pelo ciclo europeu de medição, tem autonomia para até 320 km com uma carga. Sua potência é até maior que a das opções a combustão, chegando a 113 cv. O carro tem potência de carga máxima de 100 kW, podendo recarregar de 20% a 80% em 26 minutos. O consumo homologado na Europa é de 6,09 km/kWh.

Foto de: Citroën
Então qual é a desse C3 aqui?
Sabendo que o hatch da Citroën tem a mesma plataforma no Brasil e na Europa, podemos cogitar algumas coisas. Afinal, o que entra no cofre do motor de um, pode entrar no do outro. No entanto, falando das opções a combustão ou híbridas-leves, é difícil ver num futuro próximo um cenário onde a Stellantis abrace o 1.2 turbo por aqui. É mais provável que mantenha a estratégia com os 1.0 flex nacionais, que já recebem eletrificação híbrida-leve (ainda que de 12V) nos Fiat Pulse e Fastback. Tudo dentro da grande família Stellantis
Um C3 europeu existindo no mesmo espaço do nacional empurraria o primeiro para um posicionamento mais premium, o que poderia canibalizar as vendas de modelos como Peugeot 208 nas versões mais completas ou até mesmo do 2008. Então a probabilidade de a Stellantis ter registrado o carro aqui para vendê-lo como carro a combustão é baixa.
Isso nos leva ao ë-C3, elétrico. Considerando seu conjunto de baterias, autonomia e potência, seria uma opção da Citroën a modelos elétricos mais estabelecidos no Brasil, como o BYD Dolphin GS. O carro de origem chinesa tem preços partindo de R$ 159.800, oferecendo 95 cv de potência e 291 km de autonomia pela medição brasileira. Sua bateria também é similar também: 44,9 kWh. No entanto, sua potência de recarga é menor, com somente 60 kW.
Isso leva a crer que a probabilidade de a Stellantis ter registrado o Citroën ë-C3 no Brasil é maior. O hatch tem potencial para ser comercializado em valores similares aos do BYD Dolphin, com um pacote até mais eficiente – e atraente – que o do chinês.