Após o grande número de novos modelos e marcas chinesas apresentados durante o recente Salão de Xangai, em contraste com as pouquíssimas apresentações de fabricantes estrangeiros, é fácil concluir que a lentidão na renovação da linha de modelos é o principal ponto fraco da indústria automotiva ocidental.
Nesta análise, vamos examinar os casos emblemáticos dos três maiores fabricantes europeus no cenário do Velho Continente, que é diferente do brasileiro: o Grupo Volkswagen, o Grupo Stellantis, responsável por grandes marcas como Fiat, Jeep e Peugeot e, por fim, o Grupo Renault a partir de um indicador simples, mas revelador: a idade média dos carros que cada um oferece atualmente no mercado europeu.
Foto de: Motor1 Argentina
Apesar de ter apenas 22 modelos à venda entre suas marcas Renault, Dacia e Alpine, o Grupo Renault possui hoje o portfólio mais jovem da Europa, com idade média de 3,6 anos. A renovação recente de uma boa parte da gama ajudou a manter esse número baixo: sete novos modelos foram apresentados nos últimos 18 meses, o que representa quase um terço do total. Apenas dois veículos ultrapassam a marca de 7,5 anos — o Renault Trafic (11,1 anos) e o Alpine A110 (8,2 anos).

Alpine A110 é um dos mais antigos do portfólio do grupo francês
Foto de: Alpine
O Grupo Volkswagen, que inclui marcas como Audi, Skoda, Porsche, Cupra e Seat, lidera em volume de vendas e variedade de produtos na Europa. São nada menos que 88 modelos diferentes entre carros de passeio e comerciais leves disponíveis atualmente. Só as marcas Audi e Volkswagen somam quase metade desse total.
A média de idade dos modelos do grupo é de 4,8 anos – um número respeitável considerando a complexidade do portfólio. Nos últimos 18 meses, 18 modelos foram renovados ou lançados, enquanto 19 seguem com mais de 7,5 anos de mercado.

Renegade, lançado mundialmente em 2014, mudou pouco desde lançamento
Foto de: Jeep
Stellantis tem a linha mais envelhecida
O pior desempenho entre os três grandes grupos europeus é da Stellantis, com uma idade média de 5,2 anos em sua linha de 58 modelos. Mesmo com marcas de forte presença como Peugeot, Fiat, Citroën e Jeep, o grupo sofre com modelos antigos que ainda seguem em linha, como o Fiat Panda (lançado em 2011), Jeep Renegade (2014) e os comerciais grandes Peugeot Boxer, Citroën Jumper e Fiat Ducato. Mesmo com a chegada recente à Europa de novos Compass e C5 Aircross, a média ainda reflete um portfólio que envelheceu sem substitutos diretos.
Enquanto os grupos europeus trabalham com ciclos de desenvolvimento com média de quatro anos do conceito ao carro final, as montadoras chinesas conseguiram cortar esse tempo pela metade. O padrão de desenvolvimento na China gira hoje em torno de dois anos para a criação de um novo modelo — com atualizações rápidas, grande variedade e forte apelo visual e tecnológico.

Fiat Panda de antiga geração foi lançado em 2011
Foto de: Motor1 Brasil
O que se viu em Xangai é reflexo dessa agilidade: dezenas de lançamentos, novas submarcas, e uma capacidade de adaptação que tem se mostrado cada vez mais eficaz em mercados como o do Sudeste Asiático e América Latina — e que começa a assustar até os consumidores europeus mais conservadores.
Se quiser continuar competitivo no mercado global, as marcas ocidentais terão que rever acelerar. A inovação deixou de ser apenas uma questão de tecnologia; agora, ela passa também pela velocidade de entrega — algo em que os chineses já estão uma geração à frente.