Um novo acordo comercial entre Estados Unidos e Japão promete movimentar a economia global e oferecer alívio às fabricantes japonesas. Anunciado oficialmente nesta semana, o pacto prevê a redução das tarifas sobre veículos japoneses exportados aos EUA para 15%, a partir de 1º de agosto — bem abaixo dos 27,5% que vinham sendo cobrados desde o último “tarifaço” de Trump contra o país asiático.
Em troca, o Japão se comprometeu com um pacote de investimentos e financiamentos que pode chegar a US$ 550 bilhões, focado em cadeias produtivas estratégicas, como semicondutores e produtos farmacêuticos.
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Fonte: Jason Vogel
Além disso, o governo japonês confirmou a compra de 100 aviões da Boeing e a ampliação dos gastos em defesa com empresas norte-americanas, que passarão de US$ 14 bilhões para US$ 17 bilhões por ano. O pacote inclui ainda US$ 8 bilhões em importações agrícolas e um aumento de 75% na compra de arroz dos Estados Unidos.
A resposta do mercado foi imediata. A Bolsa de Tóquio subiu quase 4% após o anúncio, impulsionada pelas ações das fabricantes de veículos. A Toyota disparou mais de 14%, enquanto a Honda teve valorização de quase 11%.
Um dos pontos do acordo que mais agradou à Casa Branca foi a retirada das exigências de testes de segurança adicionais, atualmente impostos a carros e caminhões norte-americanos vendidos no Japão — algo que, segundo o próprio presidente Donald Trump, limitava a competitividade das fabricantes dos EUA naquele mercado.

Foto de: Jason Vogel
Made In Japan
Os Estados Unidos hoje abrigam fábricas das principais marcas asiáticas. Alguns modelos, contudo, continuam a ser importados diretamente do Japão.
Entre os Toyota, o 4Runner se destaca — embora popular no mercado norte-americano, a marca não anunciou planos de transferir a produção do SUV para a América do Norte. A atual geração do Prius é fabricada exclusivamente no Japão, enquanto o esportivo Supra tem parte da produção feita pela BMW na Áustria e é finalizado no Japão.
Da Nissan, os esportivos GT-R e Z são importados integralmente do Japão. A Subaru fabricava nos EUA a sexta geração do Outback, mas decidiu concentrar toda a produção da sétima geração em Gunma, no Japão. Já o Forester tomou o sentido oposto: antes feito em Yajima, teve sua linha realocada para Lafayette, Indiana.
A Mazda mantém a produção do clássico roadster MX-5 Miata em Hiroshima. Além disso, um dos japoneses mais vendidos nos Estados Unidos é o crossover compacto Mazda CX-5, com 134.088 unidades comercializadas no último ano.
No segmento premium, a Lexus produz no Japão o sedã de luxo IS e o cupê esportivo LC, ambos vendidos no mercado norte-americano.

O Toyota Toyota Prius vendido nos EUA
Foto de: Jason Vogel
As três grandes protestam
Nem todos saíram satisfeitos com esse acerto. O American Automotive Policy Council (AAPC) — que representa as três grandes fabricantes de Detroit (Ford, GM e Stellantis) — criticou duramente o acordo.
“Qualquer pacto que aplique uma tarifa menor a carros japoneses com pouco ou nenhum conteúdo americano, enquanto mantém tarifas elevadas sobre veículos feitos na América do Norte com alto conteúdo dos EUA, é um péssimo negócio para a indústria e para os trabalhadores norte-americanos”, afirmou Matt Blunt, presidente do AAPC.
As “três grandes” operam fábricas no Canadá e no México, países que devem ser atingidos por novas tarifas de 30% a 35% a partir de 1º de agosto, conforme proposta já divulgada por Trump. Isso significa que veículos e peças importados dessas regiões para montagem nos EUA podem se tornar significativamente mais caros.
O AAPC já havia se posicionado contra medidas semelhantes no início do ano, quando o governo impôs 10% de tarifa sobre importações vindas do Reino Unido, alegando que a política “prejudica fabricantes, fornecedores e trabalhadores norte-americanos”.
Os impactos financeiros das tarifas já começaram a aparecer nos balanços. A GM revelou recentemente um prejuízo de US$ 1,1 bilhão relacionado às barreiras comerciais, e projeta números ainda piores para o terceiro trimestre. A Stellantis, por sua vez, registrou US$ 352 milhões em perdas, levando a cortes na produção e no transporte de veículos.
Com o prazo final de 1º de agosto se aproximando (data em que entrarão em vigor novas tarifas ainda mais rígidas), Trump afirmou que negociações com outros mercados ainda estão em andamento. O presidente norte-americano também declarou nas redes sociais que o acordo com o Japão é “o maior da história” entre os dois países e reforçou que só aceitará reduzir tarifas de países dispostos a abrir seus mercados aos produtos dos EUA.