A Citroën confirmou, em sua tabela de preços de agosto, a saída de dois veteranos da linha argentina: o C4 Cactus e o Berlingo Multispace. Já aposentados no Brasil, eles resistiam apenas no país vizinho, onde representavam a última ligação com a antiga era PSA — marcada por projetos excêntricos e soluções pouco convencionais.
A linha de carros de passeio da Citroën na Argentina passa a ser composta exclusivamente pelos modelos C3, C3 Aircross e Basalt, todos derivados do projeto global C-Cubed. Já o portfólio de veículos comerciais segue com as linhas Jumpy e Jumper, além do furgão elétrico e-Jumpy.
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C4 Cactus sobrevivia de estoques
Lançado na França em 2014, o C4 Cactus foi a aposta da Citroën para um SUV compacto urbano com visual incomum e soluções de projeto fora do padrão. Criado por Mark Lloyd, o modelo europeu se destacava pelas tiras protetoras nas portas com bolhas de ar, conhecidas como Airbumps, pelas janelas traseiras basculantes, pelo airbag do passageiro embutido no teto e pelo painel com telas digitais e comandos minimalistas. Era montado sobre a plataforma PF1 e equipado com motor 1.2 PureTech, posteriormente alvo de recall na Argentina por falhas na correia embebida em óleo.
A produção brasileira começou em 2018, já com visual adaptado ao gosto sul-americano. Perdeu os Airbumps funcionais, que viraram apenas decoração, ganhou suspensão elevada, janelas convencionais e volante multifuncional. Mesmo com as modificações, sua presença foi discreta durante seus seis anos de mercado. Ao todo, foram 71.639 unidades emplacadas por aqui, com pico em 2021, quando vendeu mais de 19 mil unidades.
A produção em Porto Real (RJ) foi encerrada em dezembro de 2024, com o SUV passando a ser vendido na Argentina somente por meio dos estoques restantes. Com o fim das unidades disponíveis, sua exclusão da tabela de preços era apenas questão de tempo.

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Fonte: Motor1 Argentina
Berlingo mudou pouco desde 1998
Mais antigo ainda era o Berlingo Multispace. Desenvolvido pelo antigo Grupo PSA e lançado em 1998, o modelo foi durante muito tempo fabricado em El Palomar ao lado do irmão de projeto Peugeot Partner Patagónica. Com base compartilhada e apenas leves alterações visuais, ambos foram os veículos de passageiros mais longevos da indústria automotiva local, com 27 anos de estrada.
O Berlingo chegou ao Brasil no mesmo ano de 1998, ainda importado da França. Após um hiato, voltou em 2005 com reestilização frontal e seguiu até 2007. Teve uma última passagem entre 2018 e 2020, mas sem grande sucesso comercial. Por aqui, nunca usou o nome Multispace e teve maior aceitação em sua versão furgão. Nos anos 2000, esse segmento de multivans compactas ainda englobava modelos como Fiat Doblò, Renault Kangoo e o próprio Partner.
Mesmo com estrutura antiga e segurança limitada, o Berlingo seguiu em linha como opção acessível para famílias, taxistas e transportadores escolares. Em outubro de 2023, um crash test promovido pela Global NCAP comparou um Partner argentino com um Rifter europeu. O resultado foi devastador para o modelo latino-americano, que apresentou risco elevado de morte para todos os ocupantes.
As versões furgão, no entanto, continuam disponíveis. Tanto o Berlingo Furgon Business quanto o Partner Furgon Confort seguem na linha com motor 1.6 HDi e preço de 30.440.000 pesos argentinos, cerca de R$ 123 mil na cotação direta. O substituto indireto mais próximo no mercado brasileiro é o Peugeot Partner Rapid, que nada mais é do que um Fiat Fiorino com identidade visual da marca francesa.

Foto de: Citroën


Foto de: Mario Villaescusa / Motor1.com
Nova fase com linha C-Cubed
Com o fim dos dois últimos produtos ainda da era PSA, a Citroën passa a concentrar sua oferta de carros de passeio na nova família C-Cubed, composta por C3, C3 Aircross e Basalt. Desenvolvidos em parceria com a divisão indiana da marca e montados em Porto Real, os três compartilham a plataforma CMP com o Peugeot 208.
As motorizações também vêm do catálogo da Stellantis. Por aqui, as versões mais baratas usam o motor 1.0 Firefly aspirado com câmbio manual de cinco marchas, enquanto as intermediárias e topo de linha recebem o 1.0 GSE turbo de até 130 cv e câmbio CVT com simulação de sete marchas. Na Argentina, o foco é no antigo 1.6 16v, que equipou boa parte da linha das marcas francesas por aqui.