Bastaram os primeiros anúncios da primeira Ferrari elétrica da história para que os fãs mais puristas entrassem em combustão — trocadilhos à parte. A italiana, porém, tratou de esclarecer rapidamente que o novo modelo não substituirá nenhum dos bólidos atuais em sua linha de produtos.
A Ferrari prepara o lançamento de seu primeiro carro 100% elétrico e já fez questão de esclarecer o ponto mais sensível para os fãs da marca. O modelo não substituirá nenhum esportivo atual. Nada de aposentadoria precoce para o 296 nem para o 12Cilindri. A ideia é expandir o portfólio da montadora de bólidos, entrando em um segmento inédito, sem interferir em suas linhas tradicionais.
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Fonte: Ferrari
A estratégia segue o caminho de outras marcas que buscaram novas fontes de receita antes de dar passos mais ousados. A Porsche, por exemplo, só pôde evoluir o 911 com liberdade total após o sucesso do Cayenne. No caso da Ferrari, o movimento também prepara o terreno para as novas regras de emissões da Europa, que entrarão em vigor até o fim da década.
Em entrevista ao InsideEVs, braço do Motor1 especializado em veículos elétricos, o diretor de desenvolvimento de produtos Gianmaria Fulgenzi explicou que o projeto, provisoriamente chamado de Elettrica, é um complemento à atual linha da marca. “Esse carro não é substituirá outro carro ou produto. É um acréscimo”, afirmou. Segundo o executivo, o elétrico ocupará um espaço onde a tecnologia faz sentido, sem tentar replicar a experiência de condução dos supercarros de dois lugares movidos a combustão.

A Ferrari, no entanto, não é estranha à eletrificação. Seu F80 é um supercarro híbrido de produção limitada, o mais recente de muitos desde o lançamento do LaFerrari em 2013.
Foto de: Ferrari
Por que não será um supercarro elétrico
A italiana reconhece que, com a tecnologia disponível entre 2026 e 2028, ainda não é possível criar um esportivo elétrico de dois lugares que supere os atuais híbridos ou modelos a combustão. “Com os melhores componentes e possibilidades técnicas previstas para os próximos anos, vimos que um carro elétrico de dois lugares ainda não seria um divisor de águas em termos de arquitetura e física”, explicou Fulgenzi ao InsideEVs.
A questão é física: peso e distribuição de massa continuam sendo inimigos da dirigibilidade pura. Embora o torque instantâneo seja uma vantagem, o peso elevado das baterias compromete resposta, leveza e comunicação ao volante, pontos essenciais para um verdadeiro esportivo.

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A própria Rimac, fabricante de hipercarros elétricos, enfrentou desafios semelhantes. Mesmo com quase dois mil cavalos de potência, o modelo da marca não despertou o mesmo desejo que carros mais leves e comunicativos. Por isso, o foco da Ferrari é aplicar a eletrificação em um segmento maior, onde o peso adicional pode ser compensado sem perder equilíbrio dinâmico.

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Fonte: Derek Photography
O lugar do Elettrica na linha
Em vez de competir com o 296 ou o SF90, o Elettrica será um grand tourer voltado ao uso diário e ao conforto, mas com a agilidade típica da marca. Fulgenzi destacou que é possível ter um carro grande e ágil, com quatro assentos e prazer de dirigir semelhante ao de um esportivo menor, desde que o projeto respeite proporções adequadas. “É possível ter um carro grande com a mesma agilidade de um carro menor, de modo que você possa desfrutar de quatro assentos com o mesmo prazer de dirigir de um dois-lugares”, disse o executivo.
O novo modelo deve contar com bateria de cerca de 122 kWh e autonomia próxima de 480 km, valores que o colocam entre os GTs elétricos mais eficientes do mercado. O CEO Benedetto Vigna afirmou que a Ferrari está comprometida com todas as formas de propulsão, incluindo motores a combustão, híbridos e elétricos, e que a empresa só adotará novas tecnologias quando estas forem capazes de elevar o padrão de desempenho estabelecido pela marca.

Foto de: Derek Photography
Fulgenzi complementou que as decisões de produto são “orientadas pelos clientes”, que continuam preferindo o formato dois-lugares e a emoção de um motor de combustão, especialmente o V12 dianteiro.
A montadora de bólidos seguirá investindo em motores a combustão pura, híbridos e elétricos em paralelo. O Elettrica surge como um novo passo dentro dessa estratégia, expandindo a linha da Ferrari sem alterar sua essência.

Foto de: Derek Photography
Sem data oficial confirmada, o primeiro elétrico da Ferrari representará mais um marco de diversificação do que uma ruptura. O projeto servirá para financiar o desenvolvimento dos futuros supercarros e garantir que, quando a tecnologia permitir, a italiana esteja pronta para criar um elétrico à altura de seu emblema.
É por isso que a empresa está comprometida com produtos de combustão interna pura, híbridos e elétricos para o “futuro previsível”, diz seu CEO. Por enquanto, ela está aplicando a tecnologia elétrica pura ao segmento em que ela faz mais sentido: carros de turismo maiores.
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