O Salão do Automóvel está de volta. Após anos de hiato e muitas discussões sobre sua relevância, custo e impacto, o principal evento do setor automobilístico brasileiro retorna em 2025 com pompa, expectativa de público e, principalmente, um novo protagonista no palco: as marcas chinesas.
E aqui mora o paradoxo.
O evento que historicamente foi desenhado para exaltar a produção nacional, as inovações tecnológicas locais e os grandes investimentos das montadoras tradicionais, agora será, ao menos até aqui, dominado por empresas que nem sequer fazem parte da ANFAVEA, a associação que mais desejava o retorno do Salão.
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Fonte: Divulgação
Sim, a Anfavea pediu, pressionou e ajudou a estruturar o novo evento. Mas quem deve roubar a cena são BYD, GWM, Leapmotor, MG, Jetour, GAC, Omoda & Jaecoo, JAC, Foton e até mesmo a CAOA Chery, com produtos recém-chegados, carregados de tecnologia e, ironicamente, muito mais modernos do que a maioria do que hoje é fabricado por aqui. Coloque na conta também as coreanas Kia e Hyundai, marcas que devem mostrar novidades importantes no evento.
Se nos anos 90 e 2000 os holofotes se voltavam para motores V6, transmissões automáticas inteligentes e designs arrojados de marcas alemãs, japonesas e americanas, o novo Salão do Automóvel será, provavelmente, um palco para SUVs elétricos com telas de 15″, condução semiautônoma e arquitetura 100% conectada, itens que uma parte das marcas tradicionais ainda não oferecem no Brasil.
Enquanto a indústria nacional estica plataformas antigas, não acrescenta componentes e segue estratégias conservadoras para eletrificação, os novos entrantes chineses chegam com linha completa de elétricos, híbridos plug-in, plataformas modulares, ecossistemas digitais e até fábricas em negociação.
É uma inversão quase completa do papel de quem dita o futuro da mobilidade por aqui.
Mais do que uma vitrine de lançamentos, o Salão do Automóvel 2025 pode acabar sendo um espelho, refletindo para o consumidor e para o governo o quanto o Brasil ficou para trás em termos de acesso à tecnologia automotiva de ponta.
A dificuldade de nacionalização de modelos mais modernos, a ausência de um plano robusto de eletrificação para além dos incentivos fiscais, e a dependência de produtos adaptados para mercados emergentes deixam as montadoras tradicionais numa posição desconfortável. Afinal, o consumidor brasileiro está cada vez mais bem informado, e hoje tem acesso a modelos que antes só via em vídeos do exterior e com preços competitivos.

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Fonte: Chevrolet
Ainda assim, o retorno do Salão é uma chance real de reposicionamento. O evento pode servir como ponto de virada para quem quiser entrar no jogo da eletrificação de verdade, mostrar novos investimentos, trazer produtos globais e, principalmente, ouvir o consumidor com mais atenção.
Por outro lado, se o espaço for ocupado apenas por carros que já conhecemos, com pequenas reestilizações ou pacotes adicionais, o efeito pode ser o oposto. O Salão, antes uma celebração da indústria nacional, corre o risco de se transformar em um showroom da transformação global, onde o Brasil é apenas espectador.
A lição mais importante talvez seja esta: a mobilidade mudou, e mudou rápido. O Brasil não está mais isolado, e o consumidor nacional, com acesso a informação e comparativos internacionais, já não aceita qualquer coisa com um visual diferente e nome conhecido.
O Salão de 2025 pode ser o início de um novo ciclo. Mas a pergunta que fica é: a indústria nacional está pronta para se reinventar? Ou vai apenas montar o palco e assistir os novos protagonistas brilharem?
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