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carros do museu Carde ganham prêmios na Califórnia

Todo mês de agosto, Monterey, na Califórnia, torna-se o epicentro mundial do antigomobilismo. Neste ano, o Monterey Car Week aconteceu entre os dias 8 e 17, reunindo mais de 80 mil pessoas em sofisticados eventos a céu aberto, com automóveis que deixam os entusiastas babando, de olhos arregalados e mãos trêmulas. E, agora, tivemos clássicos representando o Brasil nessa festa: o museu Carde, de Campos do Jordão (SP), levou três carros de seu acervo.

O ponto alto da semana é sempre o Pebble Beach Concours d’Elegance, o mais famoso concurso de elegância do planeta, onde raridades pré e pós-guerra são avaliadas por critérios como exclusividade, originalidade, design, relevância histórica e estado de funcionamento. E, pela primeira vez, um carro com placas brasileiras subiu à rampa da premiação.



O grupo do Carde comemora a premiação em Pebble Beach

Foto de: Divulgação

Trata-se do Isotta Fraschini Tipo 8A SS Guida Interna Sport, ano 1928, do acervo do Carde. O exemplar conquistou um dos prêmios especiais concedidos no concurso: o LAP of Luxury Award, consagrado ao carro mais luxuoso do evento. E o melhor de tudo é saber que esse superclássico tem uma longa história no Brasil — e, até a década de 80, era usado no dia a dia pelas ruas de São Paulo! Um de seus charmes, aliás, é que ainda circula com placas “normais”, e não com as pretas de coleção.

Fabricado em Milão, o Isotta Fraschini Tipo 8A era um automóvel de altíssimo luxo e produção bastante limitada. Foram apenas 950 exemplares, entre 1924 e 1931, sendo que um terço teve como destino os Estados Unidos. Um deles, inclusive, aparece em destaque no filme Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950). No Brasil, a marca tinha como representante o sr. O.A. Lucchini, de São Paulo.



Isotta com placa Mercosul na passarela da premiação de Pebble Beach

Isotta com placa Mercosul na passarela da premiação de Pebble Beach

Foto de: Divulgação

Pois bem: se o Isotta Tipo 8A já era um carro pra lá de especial, imagine as versões ainda mais exclusivas, chamadas de “S” e “SS”. Eram abreviações de Spinto e Super Spinto — ou seja, com motor preparado.

O oito-cilindros em linha de 7,4 litros tinha comando no cabeçote, tecnologia avançada para a época. A potência, que era de 115 cv nas versões comuns, chegava a 160 cv nas mais brabas, com dois carburadores e maior taxa de compressão.



Isotta Fraschini Tipo 8A SS - premiado

Isotta Fraschini Tipo 8A SS – premiado

Foto de: Divulgação

Além disso, as versões S e SS geralmente tinham relações de transmissão mais longas, favorecendo o uso em altas velocidades. Mesmo com câmbio de apenas três marchas, podiam manter 80 km/h a apenas 1.000 rpm. A fábrica garantia que qualquer Isotta Tipo 8A podia alcançar 145 km/h.



Isotta Fraschini Tipo 8A SS  (3)

Isotta Fraschini Tipo 8A SS (3)

Foto de: Divulgação

O chassi padrão tinha entre-eixos de 3,68 metros, mas, para clientes com perfil mais esportivo, a Isotta oferecia os S e SS com distância encurtada para “apenas” 3,40 m.

O exemplar levado pelo Carde a Pebble Beach tem carroceria fechada, de duas portas, feita artesanalmente pela Cesare Sala, de Milão. Pertenceu originalmente ao aviador brasileiro João Ribeiro de Barros, que em 1927 comandou a primeira travessia aérea sem escalas do Atlântico Sul. Seu hidroavião, o Savoia-Marchetti S.55 “Jahu”, era equipado com dois motores Isotta Fraschini W18.



Isotta Fraschini Tipo 8A SS  (1)

Isotta Fraschini Tipo 8A SS 

Foto de: Divulgação

Por volta de 1950, depois de passar por vários donos, esse Tipo 8A SS foi comprado pelo jovem advogado Octavio Labrusciano Novaes. Foi uma longa paixão entre homem e máquina: indiferente à passagem do tempo, Dr. Octavio dirigia o enorme Isotta como carro do dia a dia. Até o fim da década de 80 era comum ver a “máquina terrestre voadora” de 2,6 toneladas pelas ruas paulistanas ou em viagens a Santos. Na época, o carro era pintado em tom bege acinzentado.



Isotta Fraschini Tipo 8A SS  (4)

Isotta Fraschini Tipo 8A SS (4)

Foto de: Divulgação

Em 2012, já nas mãos de um colecionador, o carro foi desmontado até o chassi e passou por minuciosa reconstrução na oficina R&E Restaurações. Até as estruturas de madeira da carroceria precisaram ser refeitas. Naquele período, estava pintado em amarelo e preto. Depois de ser incorporado ao acervo do Carde, passou por novos cuidados e foi repintado com um elegante azul escuro.

Além de ser exibido no gramado do campo de golfe de Pebble Beach, o Tipo 8A SS participou do Tour d’Elegance, desfile de aproximadamente 100 quilômetros pela cinematográfica estrada costeira de 17-Mile Drive, na Highway One, até Big Sur. Ali, o Isotta Fraschini 1928 e o duPont Model E Touring 1927 — outro clássico levado pelo Carde e também exposto em Pebble Beach — mostraram que não são meros bibelôs de coleção: continuam funcionando perfeitamente, apesar de seus quase 100 anos de existência.



O raro duPont do Carde também foi a Pebble Beach (1)

O raro duPont do Carde também foi a Pebble Beach

Foto de: Divulgação

Os norte-americanos duPont são ainda mais raros que os Isotta Fraschini. Suas origens remontam à família Du Pont, que fez fortuna fabricando explosivos e produtos químicos (como tintas). Durante a Primeira Guerra Mundial, o grupo chegou a fabricar motores marítimos — mas o armistício, em 1918, pôs fim à iniciativa.

A duPont Motors precisou buscar um novo rumo e voltou-se para automóveis de alto luxo. O Model E foi produzido apenas em 1927 e 1928. Equipado com motor de seis cilindros, teve somente 83 unidades fabricadas.



O painel do duPont

Foto de: Divulgação

O exemplar que hoje pertence ao Carde foi faturado 0 km em Nova York, destinado ao escritório de vendas dos irmãos Miranda, então distribuidores oficiais da marca, e exportado em seguida para a América do Sul. O imponente Touring enviado ao Brasil serviu de protótipo de testes e demonstrações. Com chassi nº 547, é um dos poucos Model E sobreviventes, e também um dos duPont mais antigos do mundo.



O duPont também foi a Pebble Beach (1)

O duPont também foi a Pebble Beach

Foto de: Divulgação

Em 12 anos de operação (1919 a 1931), a companhia produziu um total de 625 carros. Depois de ser incorporada à fábrica de motocicletas Indian (que também pertencia à família Du Pont), a linha de automóveis foi extinta.

Outro carro do museu de Campos do Jordão que brilhou no Monterey Car Week foi uma Ferrari F50 de 1995. Os 30 anos do modelo foram lembrados no evento chamado The Quail — um concurso exclusivo, limitado a 200 veículos esportivos e com público máximo de 3 mil pessoas. O exemplar do Carde levou o prêmio.



Ferrari F50 à mostra

Foto de: Divulgação

Mas, se havia 16 impecáveis Ferrari F50 em exposição, por que deram o troféu à representante do Brasil? Simples: além da rigorosa originalidade e do estado de conservação, o carro se destacou por ser o “P2-3”, ou seja, o segundo de três protótipos construídos antes da produção em série das 349 unidades.



As F50 reunidas no evento The Quail

As F50 reunidas no evento The Quail

Foto de: Divulgação

“Foram dois prêmios que não esperávamos ganhar logo na primeira vez em que o Brasil participa como expositor tanto no The Quail quanto no Pebble Beach Concours d’Elegance. Mas esses reconhecimentos transmitem à elite do antigomobilismo mundial que nossa cultura automotiva comporta modelos desse calibre de sofisticação, raridade e valor”, declara Luiz Goshima, diretor do Carde e membro honorário da Fundação Lia Maria Aguiar.

Dona Lia, aliás, também foi a Pebble Beach.

Neste ano, 229 carros — incluindo 55 inscrições internacionais de 22 países e 174 dos Estados Unidos — participaram do Concours d’Elegance de Pebble Beach. O vencedor do prêmio Best of Show foi um Hispano-Suiza H6C “Tulipwood” Torpedo 1924, levado pelo casal Penny e Lee Anderson Sr., da Flórida.



Hispano levou o Best of Show (1)

Hispano levou o Best of Show

Foto de: Divulgação

Com mecânica avançada para a época, carroceria totalmente artesanal e muita história, o carro foi encomendado originalmente por André Dubonnet (1897-1980), um personagem maior que a vida. Herdeiro de uma indústria de bebidas, Dubonnet foi piloto de caça nas duas guerras mundiais, projetista autodidata de suspensões, designer de carrocerias, atleta olímpico (no bobsled) e piloto de corrida.



Hispano-Suiza H6C Tulipwood Torpedo 1924 (painel)

Hispano-Suiza H6C Tulipwood Torpedo 1924 (painel)

Foto de: Divulgação

Com seu Hispano-Suiza H6C “Tulipwood”, disputou em 1924 duas lendárias provas italianas: a Targa Florio (chegando em 6º lugar) e a Coppa Florio (terminando em 5º).

Um proprietário posterior acrescentou para-lamas “aerodinâmicos” ao carro, mas os Andersons buscaram devolvê-lo à forma original, para que se possa ver e realmente apreciar seu estilo torpedo.



Hispano-Suiza H6C Tulipwood Torpedo 1924 (1)

Hispano-Suiza H6C Tulipwood Torpedo 1924 (1)

Foto de: Divulgação

O chassi surbaissé (rebaixado) foi fabricado pela subsidiária francesa da Hispano-Suiza. Traz motor de seis cilindros em linha, com 8 litros. Já a carroceria foi encomendada à fábrica de aviões Nieuport-Astra (também francesa), usando tecnologia aeronáutica da época.

O nome “Tulipwood” (madeira de tulipeira) vem do fato de a carroceria ser construída com pequenas lâminas de madeira leve, mas resistente, cada uma esculpida individualmente e fixada às nervuras internas por 8.500 rebites de latão aparentes. Segundo consta, a estrutura pesava apenas 72 kg quando foi construída.



Hispano-Suiza H6C Tulipwood Torpedo 1924 (2)

Hispano-Suiza H6C Tulipwood Torpedo 1924 (2)

Foto de: Divulgação

Magnata do setor de equipamentos contra incêndios e apaixonado por barcos antigos de madeira, Lee Anderson arrematou o “Tulipwood” no leilão da RM Sotheby’s, em Monterey, em 2022. O carro saiu por US$ 9.245.000 (cerca de R$ 50 milhões) — é o preço a se pagar pelo  Hispano-Suiza mais famoso do mundo, ou “a Mona Lisa dos carros”, como definiu Gord Duff, presidente da casa de leilões.

A disputa pelo Best of Show deste ano teve concorrentes de peso, como o Maybach SW38 Spohn Sport Zweisitzer 1939, o Invicta 4½ Litros S Type Corsica Drophead Coupé 1933 e o Maserati 200SI Fantuzzi 1956.

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