A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou, na Italian Tech Week, em Turim, a importância de um esforço europeu conjunto para impulsionar os veículos autônomos. Em sua conferência na última sexta-feira, a política alemã afirmou que a inteligência artificial é fundamental tanto para aumentar a segurança nas estradas quanto para revitalizar a indústria automotiva do continente:
“Carros autônomos já circulam nos Estados Unidos e na China. A Europa precisa alcançar o mesmo nível”, exortou Von der Leyen.
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Fonte: Jason Vogel
Ela ressaltou que a prioridade da inteligência artificial deve ser sempre a segurança:
“Inteligência artificial em primeiro lugar significa segurança em primeiro lugar. Então, por que não criamos uma rede de cidades europeias onde os primeiros carros autônomos possam circular?”, provocou a presidente.

Ursula discursa no Italian Tech Week, em Turim
Foto de: Jason Vogel
Von der Leyen propôs a criação dessa rede de cidades, que funcionaria como laboratório para testes de veículos autônomos. Segundo ela, 60 prefeitos italianos já demonstraram interesse na iniciativa.
“Vamos transformar essa iniciativa em realidade. Queremos apoiar carros fabricados na Europa e desenvolvidos para as ruas europeias”, afirmou.
A presidente da Comissão Europeia acredita que a inteligência artificial poderá reduzir congestionamentos, conectar regiões remotas ao transporte público e proteger empregos — num momento em que o setor automotivo europeu passa por uma transformação rumo à descarbonização e à digitalização.
“O futuro dos carros — e os carros do futuro — deve ser feito na Europa. Esse deve ser nosso objetivo”, concluiu a presidente.

Mercedes Benz Drive Pilot (2024)
Foto de: Jason Vogel
O novo foco da China
Enquanto isso, empresas chinesas de tecnologia para direção autônoma vêm ampliando sua presença na Europa, buscando evitar barreiras enfrentadas nos Estados Unidos.
No mês passado, durante o IAA Mobility, em Munique, Dong Li, chefe de tecnologia da startup QCraft, anunciou a abertura de um escritório da empresa na Alemanha. Segundo ele, a expansão internacional da companhia está focada na Europa, onde há maior receptividade do que nos Estados Unidos — país que impõe aos chineses diversas restrições relacionadas à segurança de dados.

Mercedes Benz Drive Pilot (2024)
Foto de: Jason Vogel
Outras empresas chinesas também planejam expandir suas operações no continente, realizando testes de veículos autônomos de Nível 4 em colaboração com grandes fabricantes locais.
As startups europeias, por sua vez, defendem regras claras e competição justa, com supervisão governamental para equilibrar o mercado — um setor com enorme potencial de crescimento.

Vanette autônoma nível 4 da Renault
Foto de: Jason Vogel
Limitações legais e burocracia
A Comissão Europeia agora trabalha para unificar regras e facilitar a implantação de tecnologias mais avançadas, já que a maioria dos países da região ainda limita testes públicos a sistemas de Nível 2, que exigem monitoramento constante do motorista. Lidar com 27 burocracias e legislações nacionais pode ser um pesadelo. Daí que muitas startups europeias preferem testar seus robô-táxis e ônibus autônomos em outros continentes.
“Sabemos que o número de ‘unicórnios’ ainda é pequeno demais, e um terço deles acaba deixando nosso continente. Isso não pode continuar. Não podemos aceitar que nossos talentos mais promissores precisem sair para prosperar. É preciso encontrar o solo certo para florescer aqui, na Europa”, disse Von der Leyen.
Segundo a presidente da Comissão Europeia, também falta à Europa capital de risco e investimento em ações. Ela observou que apenas 24% da riqueza financeira das famílias europeias está aplicada em ações, contra 42% nos Estados Unidos, e enfatizou a necessidade de alcançar rapidamente esse nível.

Vanette autônoma nível 4 da Renault
Foto de: Jason Vogel
Como primeiro passo, Von der Leyen anunciou a criação do fundo multibilionário Scaleup Europe Fund, em parceria com investidores privados. O fundo terá como objetivo realizar investimentos diretos em setores estratégicos, incluindo inteligência artificial, computação quântica e tecnologias limpas — ajudando empresas em crescimento a superar lacunas de financiamento.
A presença chinesa obrigará as empresas europeias a afinar rapidamente suas estratégias.