Assim como a Nissan, o último dia 24 de abril, sexta-feira, foi agitado para a Renault na Argentina. Os motivos, entretanto, são bem diferentes: enquanto a japonesa falava pela primeira vez à imprensa sobre seus planos após decidir pelo fim da produção de picapes no país, a Renault aproveitou o momento para anunciar a chegada de seu primeiro híbrido-leve no país vizinho, responsabilidade que caberá ao SUV cupê Arkana.
O lançamento contou com a presença de Pablo Sibilla e Agustín Kovarsky, presidente da subsidiaria na região e diretor de marketing, respectivamente. Os dois executivos falaram sobre o Arkana, mas também sobre a flexibilização do câmbio, cota de importação de eletrificados e as consequências do encerramento da produção industrial da Nissan Argentina, que levou ao cancelamento das picapes Nissan Frontier e Renault Alaskan. Isso também fez com que a Nissan se retirasse do Projeto Niagara, a picape derivada do SUV Boreal que a Renault produzirá – agora sozinha – na fábrica de Santa Isabel, na região de Córdoba (ARG), a partir do ano que vem.
Foto de: Motor1 Argentina
SUV cupê só na Argentina
Muito especulado para o Brasil há alguns anos, o SUV Arkana nasceu durante a estratégia anterior da francesa, que gerou algumas variações curiosas como a variante russo-brasileira do Captur, que utilizava a base B0 do Duster e era bem maior do que a versão europeia. Dessa linhagem, nasceu também o SUV cupê, cujo design foi tão bem aceito que gerou um modelo mais refinado feito na CMF-B para a Europa.
É esse modelo que chegará ao país argentino, já com facelift e baseado na plataforma mais refinada. Seu posicionamento, entretanto, será de um modelo de nicho, sendo vendido inicialmente em uma remessa de 2.000 unidades devido às tarifas alfandegárias de 35%. Seu motor será o 1.3 TCe, parecido com o que temos no Brasil atualmente no Duster e estará no futuro SUV Boreal. Mas com sistema de hibridização leve, como os SUVs Fiat Pulse e Kia Stonic.
”Apesar de termos solicitado que esse modelo recebesse o benefício tarifário da cota governamental para veículos eletrificados, essas primeiras unidades entraram no país pagando a tarifa alfandegária de 35%. Os modelos híbrido-leve ainda não têm uma posição tarifária, mas o governo estima que isso será corrigido na licitação da segunda parcela da cota de unidades para este ano.”

Foto de: Instagram
Renault Boreal será vendido também na Argentina
Aposta continuará em eletrificados
Hoje, a Renault é uma das únicas a apostar em modelos eletrificados no país, investindo na linha E-Tech do pequeno Kwid e importando algumas unidades do Megane E-Tech. O primeiro modelo, graças ao seu preço, conseguiu o beneficio de isenção fiscal no programa de cotas do governo que surgiu com o fim do ”imposto do luxo”, mas o Megane ultrapassa o valor máximo. A francesa continuará trazendo o modelo da Europa mesmo que sob encomenda.
Essa aposta crescerá até o fim do ano com a oferta do SUV médio-grande Koleos, em versão híbrida plena, e a importação direta do Brasil do novo Boreal, que concorrerá com Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, apostando em um motor parecido com o do Arkana.
”Assumimos um compromisso com o carro elétrico há vários anos. É uma aposta que veio para ficar. Não vamos sair da oferta da [linha] E-Tech. É um mercado pequeno, mas logo começará a crescer e a se movimentar mais. O importante é que o consumidor entenda que não se deve exigir do carro elétrico um desempenho para o qual ele não foi desenvolvido”.

Foto de: Motor1.com
Niagara da Nissan nunca saiu do papel
Mas o principal assunto da entrevista – e que também nos interessa – é sobre o cancelamento da picape intermediária derivada do projeto Niágara. Assim como as Frontier e Alaskan, a ideia era produzir as duas simultaneamente na mesma linha, na fábrica de Santa Isabel.
O projeto veio de um investimento de 350 milhões de dólares, e não pegou a marca francesa exatamente de surpresa. Segundo os executivos, eles já sabiam que a versão japonesa da futura concorrente de Fiat Toro e Ford Maverick não sairia do papel, mas não cabia à eles falaram sobre decisões de outras marcas.
“Em setembro de 2024, quando anunciamos o investimento de 350 milhões de dólares para produzir o Projeto Niágara na fábrica de Santa Isabel, já sabíamos que a versão dessa picape só seria produzida com a marca Renault, pois a Nissan já havia se retirado do projeto. O lançamento será no 2º semestre de 2026 e, antes do final de 2025, produziremos as primeiras 100 carrocerias, para testar todo o processo industrial. Não poderíamos dizer nada sobre a Nissan porque não cabe à Renault fazer anúncios sobre outras marcas.

Foto de: Renault
Renault e Geely fecharam acordo de cooperação no Brasil
Picape da Geely?
Sobre as picapes médias, a produção será encerrada entre os meses de novembro e dezembro. A Renault tinha vontade de continuar com a linha da Alaskan, mas como o projeto original era da Nissan, não era possível porque o projeto continuará com a japonesa no México.
Um dos caminhos, segundo os executivos, poderia ser utilizar outros aliados da francesa, como a Geely, mas não há nada definido, já que o grupo chinês não conta com picapes do tipo em sua linha.
“Gostaríamos muito de continuar no segmento de picapes médias. A Alaskan não poderá continuar com o esquema atual porque a produção foi assumida pela Nissan. Estamos procurando alternativas. Outro de nossos aliados, a Geely, não tem picapes em sua linha atual. Gostaríamos de estar no segmento de picapes médias, que é muito competitivo. Isso nos ensinou muito, pois não tínhamos experiência e aprendemos muito.

7
Como será a Niagara
A picape intermediária da marca terá a plataforma RGMP, a mesma do Kardian, mas obviamente maior. Inicialmente, deverá conviver com a atual Oroch, que será reposicionada como opção de custo e beneficio dentro da linha da francesa.
Daniel Nozaki, diretor do centro de design da Renault América Latina, disse há algum tempo que a picape apostará bastante no size impression, ou seja, parecer maior do que realmente é, principalmente para atrair compradores de picapes maiores e que não precisam da capacidade de carga total. Seu lançamento deverá ficar para 2026.