Híbrido leve, híbrido pleno, plug-in, super híbrido… Com a avalanche de modelos eletrificados surgindo nos últimos anos, é natural que as classificações tenham se multiplicado. O problema é que, para boa parte dos consumidores – e até mesmo para especialistas do setor – entender exatamente o que cada um desses termos significa virou um desafio. Por isso, uma nova proposta começa a ganhar força no mercado europeu: simplificar.
Somente na Itália, por exemplo, existem atualmente mais de 760 versões de veículos eletrificados à venda, distribuídas entre centenas de modelos e marcas. E quanto maior o número de opções, maior também a confusão de quem precisa escolher um carro novo, mas não compreende as diferenças entre tecnologias.
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Fonte: Audi
A palavra “híbrido” virou um guarda-chuva para soluções muito distintas entre si. Segundo levantamento feito pelo Osservatorio Auto e Mobilità, da Luiss Business School, essa falta de clareza pode levar consumidores a decisões mal informadas – muitas vezes baseadas apenas no nome da versão. O que fazer, então, para deixar as coisas mais claras?
Um híbrido não é igual a outro
O estudo da Luiss revela que cerca de dois terços dos modelos híbridos vendidos atualmente pertencem à categoria Mild Hybrid, ou híbridos leves – tecnologia em que o motor elétrico apenas auxilia o propulsor a combustão, sem mover o carro sozinho. É o mesmo sistema presente nos Fiat Pulse e Fastback Hybrid vendidos no Brasil.
Já os Full Hybrid, ou híbridos plenos, como o Toyota Corolla, que conseguem rodar pequenas distâncias em modo totalmente elétrico, representam apenas 10% das vendas. Os Plug-in Hybrid, como o BYD King, que podem ser recarregados na tomada e oferecem maior autonomia elétrica, respondem por pouco mais de um quarto do mercado italiano.

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Foto de: Mario Villaescusa / Motor1.com
Mais recentemente, surgiu uma nova categoria informal: o Middle Hybrid, uma espécie de híbrido leve mais evoluído, que já consegue mover o carro por curtos períodos em baixas velocidades apenas com energia elétrica.
Apesar do nome já ser usado em algumas discussões, ele ainda não aparece de forma oficial nos catálogos de montadoras. Também entram nessa equação os modelos com extensor de autonomia, como o Mazda MX-30 R-EV ou o Leapmotor C10.

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Foto de: Motor1 Italy
Faltam regras comuns
Confusão? Um pouco. Para complicar ainda mais, há a ausência de um sistema compartilhado que distinga as diferentes tecnologias. E justamente a esse respeito, a pesquisa realizada pela Luiss destacou o fato de que atualmente são usados 13 critérios de identificação das tecnologias, que são sim úteis para fazer uma distinção e explicar aos consumidores as reais diferenças, mas que muitas vezes podem ser enganosos.
O motivo disso é porque se trata de termos baseados em parâmetros também muito diferentes entre si, como: potência dos motores, capacidade da bateria, modo de uso na estrada, todas combinações das quais, no momento, nem as normas europeias levam em conta, considerando apenas se o carro é recarregável na tomada ou não, sem avaliar quanto realmente pode viajar em modo elétrico.

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Foto de: Green NCAP
Resultado? Um caos normativo que torna difícil fazer comparações e se orientar na escolha, tanto para os clientes quanto para as instituições que desejam incentivar a mobilidade sustentável.

Recentemente, picape Hilux ganhou sistema híbrido leve de 48v na Europa; sistema auxilia em baixas velocidades.
Propostas para simplificar
Buscando uma solução, a Luiss Business School, em parceria com a UNRAE – entidade que representa as montadoras na Itália – apresentou duas propostas que poderiam trazer mais clareza, pensadas para serem adotadas em prazos distintos.
A primeira, de curto prazo, sugere a criação de um índice técnico de eletrificação, que leve em conta a relação entre a potência do motor elétrico e do motor a combustão, ajustado pelo peso do veículo. Como esses dados já fazem parte dos processos de homologação, bastaria organizá-los de maneira comparável.

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A segunda proposta, mais ambiciosa e pensada para o médio prazo, defende uma classificação baseada no uso real do carro: ou seja, quanto tempo e quantos quilômetros o veículo consegue de fato rodar em modo elétrico, principalmente em ambiente urbano. Isso permitiria criar uma escala simples com três faixas:
- Mild Hybrid – menos de 30% do trajeto em modo elétrico
- Middle Hybrid – entre 30% e 59%
- Full Hybrid – mais de 60%
Para que esse modelo funcione, seria necessário o desenvolvimento de ferramentas específicas de medição, mas a própria UNRAE acredita que essas métricas poderiam ser integradas aos ciclos de homologação no futuro. A ideia é oferecer um novo padrão de transparência, facilitando comparações e decisões de compra – algo que o consumidor brasileiro, assim como o europeu, também agradeceria.