Até 2016, quem buscava uma picape estava quase refém de dois segmentos: as compactas, com Fiat Strada e VW Saveiro, e as médias tradicionais, com Chevrolet S-10 e Toyota Hilux. Havia um buraco de tamanho e de proposta entre essas faixas, e duas montadoras enxergaram uma chance em uma categoria até então pouco explorada.
A Renault trouxe a Oroch em setembro de 2015. Na prática, era um Duster de primeira geração revisado para o uso como picape, entregando caçamba de 683 litros e oferecendo mais espaço interno. Nunca decolou nas vendas, muito pelo apelo simples demais, herança da origem Dacia.

Foto de: Motor1 Brasil
A Fiat atacou na mesma linha de preço. As novidades do então grupo FCA começavam a chegar com a base Small Wide, hoje presente em Ram e Jeep, com muito DNA norte-americano. A aposta deu certo: a Toro somou 41.289 unidades no primeiro ano. A rival francesa ficou em 14.247.

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O conceito de 2018
A Volkswagen desenhou a resposta com a Tarok, conceito exibido no Salão do Automóvel de 2018. Com cerca de 4,9 metros, a missão era ocupar o espaço entre Saveiro e Amarok com um produto de comportamento mais próximo de SUV e caçamba realmente usável. A engenharia brasileira assumiu o projeto para enfrentar a força da Toro com um produto pensado para a região.
O design do modelo lembrava muito o que a marca já oferecia em outros segmentos, em especial os SUVs T-Cross e o médio Taos. Alguns deles só chegariam anos depois, como a grade e o logo iluminados. No painel, ela era um pouco mais conservadora, mas ainda trazia o painel digital VW Virtual Cockpit, ainda novidade, e central multimídia integrada.
Pandemia mudou tudo
A pandemia, entretanto, mexeu nas prioridades. Fábricas pararam, concessionárias encolheram operações e o caixa passou a guiar decisões. Em entrevista ao Motor1.com Brasil, o então presidente da VW América do Sul, Pablo Di Si, disse que seria preciso “reavaliar 100% dos investimentos”, com adiamentos e possíveis cortes de projetos.
A Tarok nunca saiu do radar e voltou a ganhar força a partir de meados de 2022. Chegou a aparecer a rota de General Pacheco, na Argentina, compartilhando a MQB A1 do Taos para ganhar sinergia industrial. Mudanças políticas e fabris no país vizinho, somadas ao fim do Taos local e ao foco na próxima Amarok, recolocaram o centro de decisão no Brasil.

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Modelo roda com casca de Tiguan
Em 2024, a VW retomou investimentos e somou R$ 9 bilhões ao ciclo vigente de R$ 7 bilhões, totalizando R$ 16 bilhões com metas para híbridos e elétricos. Dali nasce a MQB37, evolução da MQB usada em Polo, Virtus, Nivus e T-Cross, agora preparada para eletrificação. A base precisa suportar conjuntos como os do T-Roc europeu, com os novos produtos da marca, a partir de 2026, já trazendo algum grau de eletrificação. A Tarok é uma das cotadas para estrear essa arquitetura no país.
Os testes acompanham esse caminho. Primeiro, mulas com cascos de Virtus para validar calibração e rede elétrica. Depois, a migração para “casca” de Tiguan Allspace, mais próxima de massa, entre-eixos e bitolas esperadas para a picape.
Um flagra de agosto indica suspensão traseira com eixo rígido e feixe de molas, solução mais alinhada a picapes médias e à Fiat Strada. A própria Saveiro usa molas helicoidais e eixo de torção. A leitura vem da maior altura do solo atrás e do comportamento em piso irregular. Perde-se em conforto frente a multilink usadas por Fiat Toro e Ram Rampage, mas se ganha em robustez e capacidade de carga.
A escolha da MQB37 também resolve limitações conhecidas da MQB A0, pensada para compactos e sem preparo pleno para eletrificação. A produção no Paraná, inclusive, faz sentido: São José dos Pinhais já montou o Golf Mk7 e modelos Audi em MQB e tem lastro técnico para a transição.
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