Entram em vigor nesta sexta-feira (1/8) os novos percentuais de mistura obrigatória de biocombustíveis nos combustíveis vendidos no Brasil. Com a mudança aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em junho, a gasolina comum passa a conter 30% de etanol anidro (E30), ante os 27% anteriores (E27), enquanto o diesel terá 15% de biodiesel, contra 14% até ontem.
A expectativa do governo federal é de que a nova fórmula ajude a reduzir o preço da gasolina em até R$ 0,11 por litro, segundo cálculos do Ministério de Minas e Energia (MME). Já para o diesel, o impacto imediato nos preços deve ser neutro, embora o Executivo aposte em ganhos indiretos com a redução da dependência de importações e estímulo à produção local.
Além do potencial impacto no bolso, a medida também é defendida com base em ganhos ambientais. Tanto o etanol quanto o biodiesel são renováveis e, segundo o governo, colaboram para reduzir as emissões líquidas de CO₂, já que o gás carbônico emitido na queima dos combustíveis é reabsorvido no plantio de cana-de-açúcar ou soja.

Foto de: Agência Brasil
Governo quer depender menos de importações
Os novos percentuais fazem parte do programa Combustível do Futuro, lançado em 2023, e foram definidos na 2ª reunião extraordinária do CNPE em 24 de junho, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O encontro foi marcado pelo simbolismo político e pelo contexto internacional conturbado, com os conflitos no Oriente Médio pressionando os preços do petróleo e ampliando a instabilidade nos mercados de energia.
Com os biocombustíveis produzidos internamente, o governo argumenta que há mais resiliência frente às oscilações externas, especialmente em momentos de alta do petróleo. Também se espera que o fortalecimento da cadeia nacional de etanol e biodiesel gere mais empregos e investimentos no setor.

Carros mais antigos e os a gasolina devem sofrer mais com novo combustível
Foto de: Chevrolet
Especialistas e setor produtivo divergem sobre impactos
Apesar da aprovação unânime entre os ministérios, a medida divide opiniões entre especialistas, fabricantes e frotistas. Segundo o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), a mistura E30 é tecnicamente viável para a frota nacional de veículos leves, embora o mesmo estudo aponte restrições de desempenho em motocicletas movidas exclusivamente a gasolina.
A Abraciclo, entidade que representa os fabricantes de motos, confirmou dificuldades em testes realizados com o novo combustível, como falhas de partida em modelos não flex, mas ainda assim manifestou apoio à política de aumento do teor de etanol.

Abraciclo, entidade que representa os fabricantes de motos, encontrou falhas em testes realizados com novo ocmbustível
O debate também se estende ao diesel. A elevação de 1 ponto percentual na mistura com biodiesel preocupa transportadoras, que apontam risco de entupimento de filtros, maior corrosão, aumento no consumo e dificuldades em regiões mais frias, onde o biodiesel tende a cristalizar.
O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) destaca que a menor estabilidade e maior absorção de água do biodiesel podem aumentar os custos de manutenção.