Comprar um carro de luxo na China ficou mais caro. O governo reduziu de 1,3 milhão para 900 mil yuans, cerca de R$ 1,01 milhão para R$ 698 mil, o limite para aplicar a taxa de luxo de 10%. A medida, em vigor desde 20 de julho, atinge SUVs grandes, sedãs de topo e elétricos premium, afetando até o BYD Yangwang U8.
Segundo o Automotive News Europe, o anúncio foi feito pelo Ministério das Finanças e pela Administração Tributária Estatal ao melhor estilo de Donald Trump: com apenas 48 horas de antecedência, pegando a indústria de surpresa. A justificativa oficial é incentivar o consumo “mais racional”, um eufemismo para reduzir compras de alto valor. A cobrança é feita sobre o preço final do carro, já com opcionais, e incide inclusive sobre modelos elétricos de luxo, mesmo que sejam isentos de outras taxas de produção ou importação.
Foto de: Jason Vogel
O impacto chega em um momento de queda nas vendas para as marcas europeias na China. No primeiro semestre de 2025, a BMW vendeu 318.125 unidades, queda de 15% em relação ao ano anterior. A Mercedes-Benz recuou 14%, com 293.172 unidades, enquanto a Porsche teve baixa de 37%, vendendo 18.837 carros. A Jaguar Land Rover, que inclui as marcas Range Rover e Defender, caiu 31%, somando 32.757 unidades.
Richard Molyneux, diretor financeiro da JLR, disse que praticamente todos os Range Rovers vendidos no país passaram a se enquadrar no novo patamar. “Estamos um pouco em pânico por isso, porque só fomos avisados 48 horas antes”, declarou. A rede de concessionárias já enfrenta dificuldades e absorverá o custo no curto prazo para evitar repasses imediatos aos clientes.

Foto de: Land Rover
A Mercedes-Benz, marca mais afetada pela nova tributação, também decidiu manter os preços de alguns modelos até 31 de agosto, incluindo o Classe S, dentro de uma campanha com o slogan “As taxas podem mudar num instante, mas a honra permanece”.

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Fonte: Motor1.com
Sobrou até para a BYD
Embora a nova faixa de tributação tenha como alvo principal o mercado de alto padrão dominado por marcas estrangeiras, alguns modelos chineses também foram atingidos. Entre eles está o Yangwang U8, SUV de luxo da divisão premium da BYD, que ultrapassa com folga o novo limite de 900 mil yuans. Trata-se de um utilitário grande com versões de sete lugares e tecnologia híbrida com foco em desempenho, posicionado para competir com modelos como o Range Rover e o Mercedes-Benz GLS.
O impacto para a BYD é simbólico, mas relevante. A marca construiu sua imagem nos últimos anos com produtos de ótimo custo-benefício, mas o Yangwang U8 é uma aposta no segmento de luxo doméstico, com preço e equipamentos equivalentes aos rivais europeus. Com a nova taxa, a BYD precisará decidir se absorve o custo, reduz margens ou repassa o aumento ao consumidor, arriscando-se a perder competitividade em um nicho onde busca ganhar espaço.

Foto de: Motor1.com

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Para veículos que ficam próximos ao limite, como o Porsche Taycan, concessionárias têm usado descontos para escapar da tributação. No entanto, segundo fontes do setor ouvidas pelo Automotive News Europe, manter essa estratégia exigiria cortes de preços permanentes, o que ainda está em discussão.
Com vendas em queda, avanço das marcas locais no segmento premium e agora a pressão adicional da taxa de luxo, as fabricantes europeias podem enfrentar um segundo semestre ainda mais desafiador no mercado chinês.