A Scania inaugurou nesta quarta-feira (15/10) sua primeira fábrica na China, em Rugao, província de Jiangsu, a 200 km de Xangai. Com um aporte de 2 bilhões de euros (R$ 12,6 bilhões), trata-se da maior unidade da companhia sueca fora da Europa e representa um passo importante na expansão global da marca.
O novo complexo tem capacidade para produzir 50 mil caminhões por ano, tornando-se a terceira base industrial global da Scania, ao lado de Södertälje, na Suécia, e de São Bernardo do Campo, no Brasil. A companhia também opera unidades em países como a Holanda, mas são centros menores ou especializados em motores ou componentes específicos, e não podem ser considerados bases globais. No ano passado, a Scania vendeu 96.443 caminhões no mundo inteiro, sendo que 19.134 foram emplacados no Brasil.
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Fonte: Scania
Ter uma linha de produção na China faz parte da estratégia de se aproximar de clientes no competitivo mercado asiático e ganhar flexibilidade para reagir a mudanças no cenário econômico global, blindando a empresa contra incertezas geopolíticas e variações em acordos de livre comércio.
A ideia é que a fábrica chinesa, com aproximadamente 3 mil funcionários, atenda ao mercado local e também exporte caminhões (cavalos-mecânicos e chassis rígidos) para outros países da Ásia, além da Oceania. A unidade produz duas séries de caminhões. A Global Super traz os modelos da Linha R, com motores de 13 litros e visual semelhante ao dos Scania brasileiros.
Mais interessante é a linha Next Era (foto que abre o texto) desenvolvida especialmente para a estreia da fábrica chinesa. Com visual futurista, apresenta grade e para-choque totalmente redesenhados, além de faróis de LED. Um detalhe curioso é que, em vez do logotipo tradicional, o nome Scania aparece escrito em chinês na dianteira.

Scania inaugura fábrica na China
Foto de: Scania
Os motores disponíveis são os TD13 02 e TD13 01, com 460 cv e 500 cv, respectivamente. Os caminhões da linha Next Era também contam com sistema de câmeras 360° e condução autônoma de nível 2, incluindo controle de cruzeiro adaptativo e frenagem automática. Voltada ao transporte de longa distância, a linha integra-se totalmente ao ecossistema digital local.
A China é hoje o maior mercado de caminhões pesados do mundo, atraindo o interesse de fabricantes estrangeiros. Apesar de oferecerem melhor qualidade e mais conforto, os caminhões importados têm um público restrito devido a seu alto custo. A recente flexibilização das políticas econômicas permitiu, entretanto, que marcas estrangeiras construam suas próprias fábricas no país, sem necessidade de parceria com empresas locais.
A linha de produção em Rugao foi planejada para funcionar quase totalmente com fontes de energia renováveis, como biogás produzido na região e eletricidade de baixo carbono, com a meta de se tornar carbono neutra.

Scania L76 Jacaré de transporte de madeira na China, em 1965
Foto de: Scania
Uma história de 60 anos
A relação da Scania com a China remonta a 1965, inicialmente com a importação de caminhões suecos L76 para transporte de madeira em regiões como Yunnan e a Floresta de Daxing’anling.
Uma passagem importante dessa história, contudo, ocorreu na África, durante a construção da Tazara Railway, ligando Tanzânia e Zâmbia. Essa ferrovia ajudou a reduzir a dependência econômica da Zâmbia (um país sem saída para o mar) em relação à Rodésia e à África do Sul, que eram governados por regimes segregacionistas de minoria branca.
O projeto da Tazara Railway foi financiado majoritariamente pelo governo da China. Milhares de engenheiros e trabalhadores especializados do país asiático foram enviados à África entre 1968 e 1975, ano da inauguração da ferrovia. Pequim também forneceu materiais, como locomotivas, vagões e ferramentas para a construção — incluindo 200 caminhões Scania L76 “Jacaré” comprados especialmente para a obra.
Após a conclusão do projeto, os caminhões foram devolvidos à China, onde continuaram a operar por muitos anos. Na época, a tecnologia dos caminhões pesados chineses era atrasada, e os “Jacarés” fizeram enorme sucesso no país.
Em 2002, a Scania estabeleceu um escritório na China, formalizando sua entrada no mercado. Em 2020, adquiriu a Nantong Gaokai Auto Manufacturing Co., Ltd., dando início aos planos de produção local.

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A base no Brasil
Apesar da nova unidade chinesa, a operação brasileira manterá sua importância global. Fundada em 1957, a Scania Vabis do Brasil – Motores Diesel S.A. foi a primeira linha de produção da marca fora da Suécia. Inicialmente, seus caminhões L75 eram produzidos na fábrica da parceira Vemag, no distrito do Ipiranga, em São Paulo. Em 1962, foi inaugurada a fábrica de São Bernardo do Campo, que se tornou a base de exportação para a América Latina e também um laboratório de tecnologias regionais. Em 2024, saíram da linha de produção brasileira aproximadamente 30 mil caminhões e chassis de ônibus, sendo 35% destinados a outros países.
Desde 2014, a Scania AB é totalmente controlada pelo grupo Volkswagen. A companhia sueca pertence à holding Traton SE, que cuida de marcas de caminhões e ônibus do grupo, como MAN e Navistar. Ou seja, a Scania não tem ações negociadas na bolsa: todo o capital da empresa está nas mãos do grupo Volkswagen, tornando-a uma empresa de capital fechado e parte do mesmo conglomerado que controla outras grandes marcas automotivas.
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