A Ferrari teve seus motivos para abandonar as caixas de câmbio manuais após a California de 2012. Na época, só dois ou três conversíveis foram vendidos com pedal de embreagem, o que mostra que a demanda era quase inexistente. Mas essa baixa procura não foi o único motivo.
Em 2016, o então chefe de tecnologia Michael Leiters resumiu: não existe hoje uma caixa manual que seja melhor do que uma automática de dupla embreagem. Ainda assim, tem sempre quem insista em pedir a velha alavanca.
Foto de: Ferrari
Para esses fãs saudosistas, a Ferrari tem uma solução simples e nada delicada: quer passar marcha? Então vá comprar um usado. Foi o que deixou bem claro Enrico Galliera, diretor de marketing e comercial da marca, quando questionado pela Evo se havia planos para trazer de volta o manual. “Já temos”, disse ele. “Em muitos de nossos carros clássicos.” E ainda completou: “Comprem e restaurem nossos fantásticos clássicos”.
Galliera aproveitou para dar mais uma cutucada: “Temos o câmbio manual e incentivamos os clientes a redescobrir a beleza de dirigir um clássico. É uma experiência importante que oferecemos nos nossos programas Corsa Piloti”.

Ferrari 348 Spider (1995)
Foto de: Jason Vogel
Para quem não conhece, o Corsa Piloti é o curso oficial de pilotagem da Ferrari, com aulas teóricas e práticas em pista, dividido em vários níveis — do Sport ao Challenge. Os participantes treinam técnicas de direção esportiva guiados por instrutores campeões de provas como Fórmula 2, Fórmula 3 e 24 Horas de Le Mans.
Apesar do recado, nem tudo está perdido para os fãs mais puristas. A Ferrari não descartou totalmente a ideia de um manual novo — mas, claro, para pouquíssimos. Segundo Gianmaria Fulgenzi, diretor de desenvolvimento de produtos, uma configuração manual pode fazer sentido para algum superesportivo da série Icona, como o Monza SP1/SP2 ou o Daytona SP3. Modelos que, aliás, já custam uma pequena fortuna mesmo sendo automáticos. Para Fulgenzi, quem banca um bólido de milhões “já está pedindo por isso”.


Enquanto isso, rivais como a Porsche seguem lucrando com o hype do pedal de embreagem em edições especiais do 911. A Ferrari até poderia embarcar nessa, cobrando um valor extra altíssimo — algo que seus clientes mais endinheirados provavelmente pagariam sorrindo, já que um carro desses com câmbio tradicional viraria investimento certo de tão raro.
Mas dá pra entender por que a marca pisa no freio. A Ferrari já tem pedidos garantidos até 2027, impulsionada pelas vendas recordes do ano passado. Além disso, sistemas de segurança, assistências eletrônicas cada vez mais complexas e metas de emissão de poluentes tornam o manual menos eficiente, mais caro de desenvolver e mais difícil de homologar — especialmente na Europa, onde cada grama de CO₂ conta para bater as metas da frota.