A General Motors promete que, em 2028, o motorista poderá tirar os olhos da estrada. O sistema autônomo de Nível 3 será estreado pelo Cadillac Escalade IQ, utilitário elétrico de alto luxo que levará a companhia à era do ‘hands-free, eyes-off‘ — ou seja, condução sem usar as mãos e sem olhar para a pista, em determinadas condições.
O anúncio foi feito pela presidente Mary Barra durante o GM Forward, evento para a mídia realizado em Nova York no dia 22/10, que destacou o foco da empresa em automação, inteligência artificial e arquitetura eletrônica avançada. Apesar da retração na produção de veículos elétricos e do impacto da perda do crédito fiscal federal de US$ 7.500 nos Estados Unidos, a GM reafirma que seu futuro está intimamente ligado à tecnologia — e não se limita à eletrificação.
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Fonte: General Motors
A GM foi pioneira na condução sem mãos. Em 1939, na exposição Futurama da Feira Mundial de Nova York, a empresa mostrou miniaturas de carros elétricos guiados por campos eletromagnéticos em pistas especiais, na maquete de uma cidade. Já em 1956, o conceito Firebird II antecipava um sistema de condução automática com sensores que interagiam com faixas de tinta no asfalto, permitindo manter velocidade e distância seguras — uma combinação de controle de cruzeiro adaptativo e assistente de faixa, sete décadas antes de se tornarem comuns.
Em 2017, a GM lançou o Super Cruise, sistema de automação de Nível 2 que permite condução “hands-free” em rodovias mapeadas, controlando direção, aceleração e frenagem, enquanto monitora a atenção do motorista. Estreou no Cadillac CT6 e hoje equipa modelos da Cadillac, Chevrolet e GMC, como Escalade, Silverado, Suburban e Bolt EUV.

Cadillac Escalade autônomo nível 3
Foto de: Cadillac
É a vez do Nível 3
Agora, a empresa se prepara para o Nível 3, no qual o veículo pode dirigir sozinho e tomar decisões em trechos específicos, permitindo que o motorista desvie a atenção da estrada e faça outras atividades em seu posto, embora ainda precise reassumir o controle quando solicitado.
O sistema usado no Escalade IQ será capaz de operar em rodovias mapeadas e monitoradas nos Estados Unidos, usando uma combinação redundante de câmeras, radares e sensores LiDAR, integrados por sensor fusion para criar uma leitura precisa do ambiente. O funcionamento será indicado por uma faixa de luz azul-turquesa no painel e nos espelhos externos, sinalizando aos ocupantes e a outros motoristas que o veículo está em modo autônomo (a autorização para essa iluminação ainda depende de legislações locais).
Será um passo além do Autopilot da Tesla, cuja versão mais avançada disponível atualmente é a Full Self-Driving (FSD), também conhecida como “Autopilot com FSD” — classificada como Nível 2 de automação segundo a SAE (Society of Automotive Engineers). O Nível 2 é definido por sistemas onde o veículo controla a direção e a velocidade, mas o motorista deve monitorar constantemente a condução e estar pronto para intervir imediatamente a qualquer momento (mãos e olhos no volante/estrada).
A nova geração do Super Cruise da GM se baseia em mais de 700 milhões de quilômetros percorridos em modo mãos-livres sem acidentes atribuíveis à tecnologia, além das lições aprendidas com a operação da antiga divisão Cruise, que acumulou mais de 5 milhões de quilômetros totalmente autônomos.

Cadillac Escalade autônomo nível 3
Foto de: Cadillac
Em outubro de 2023, um episódio em São Francisco levou ao cancelamento da operação de robotáxis da GM: um carro conduzido por um humano atropelou uma pedestre, lançando-a contra o robô-táxi, que freou forte, mas ainda a arrastou por 6 metros. O caso resultou na suspensão das licenças de teste e na decisão da GM de encerrar o financiamento ao desenvolvimento desse tipo de transporte sem motorista.
O salto de automação virá acompanhado de uma nova arquitetura eletrônica centralizada, que estreará no Escalade IQ. Todos os sistemas do veículo — trem de força, suspensão, freios, multimídia — estarão unificados em um computador central com refrigeração líquida, conectado por rede Ethernet automotiva. A arquitetura substitui dezenas de módulos e quilômetros de cabos por controladores de zona, oferecendo mil vezes mais largura de banda, 35 vezes mais desempenho de IA e 10 vezes mais capacidade de atualizações remotas que a geração anterior.
Na prática, isso garantirá respostas quase instantâneas dos sistemas de segurança e controle dinâmico, introdução de novos recursos via over-the-air e separação entre hardware e software, facilitando a manutenção e prolongando a vida útil do veículo. A plataforma será compatível com veículos elétricos ou a combustão, padronizando processos e acelerando a disseminação de novas tecnologias na linha da GM.
Antes mesmo do lançamento da nova geração do Super Cruise, a GM planeja incorporar inteligência artificial conversacional em seus carros a partir de 2026. Os próximos modelos terão assistentes virtuais baseados no Google Gemini, capazes de compreender linguagem natural e permitir interação como uma conversa cotidiana, sem comandos rígidos. Futuramente, a GM pretende substituir esse sistema por seu próprio assistente de IA, integrado ao OnStar, personalizado para cada veículo e perfil de motorista, capaz de antecipar manutenções e oferecer recomendações de viagem.
Nas fábricas, “cobots”
Outra frente de inovação ocorrerá nas fábricas. A GM revelou detalhes de sua divisão de robótica autônoma, o Autonomous Robotics Center (ARC), com unidades em Warren (Michigan) e Mountain View (Califórnia). Mais de 100 engenheiros e especialistas em IA desenvolvem robôs móveis e colaborativos (“cobots”) capazes de trabalhar lado a lado com humanos. Esses robôs manipulam peças, organizam fluxos de produção e operam de forma semi-autônoma, aprendendo com dados reais de fabricação — medições de qualidade, telemetria e outros indicadores. Atualmente, cerca de 30 mil robôs convencionais estão em operação na rede global da GM.
Por fim, a fabricante ampliará sua atuação no setor de energia. A partir de 2026, donos de veículos elétricos poderão aderir a um sistema doméstico reversível de energia, integrando o GM Energy Home System com baterias do carro, painéis solares e a rede elétrica, permitindo fornecer energia à residência durante apagões ou até devolver eletricidade à rede em períodos de alta demanda.
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