Nesses tempos em que hipercarros eletrificados e com aerodinâmica ativa ditam as regras, a Capricorn decidiu seguir outro caminho. Ao completar 92 anos de existência, a empresa alemã finalmente lança o seu próprio carro — que parece uma carta de amor aos esportivos de outra era. Para desenhar a carroceria, convidou a lendária Zagato, de Milão. O resultado é o Capricorn 01 Zagato, um GT de produção extremamente limitada, que custa 2,95 milhões de euros (R$ 18 milhões).
Mas como assim você nunca ouviu falar na Capricorn? Fundada em 1933, essa discreta companhia com sede em Düsseldorf fornece componentes de alto desempenho para praticamente todas as marcas de supercarros de rua ou de pista. São monocoques de fibra de carbono e peças de suspensão para máquinas como Bugatti Veyron, McLaren P1, Audi R8 e o Porsche 919 Hybrid tricampeão em Le Mans. A empresa também já esteve envolvida em projetos de Fórmula-1, mais especificamente da Lotus e da Caterham.
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Fonte: Jason Vogel
O mais surpreendente, contudo, é saber que, por um breve período (entre 2014 e 2015), a Capricorn foi dona do circuito de Nürburgring. Uma de suas fábricas, a unidade de Meuspath, fica colada ao traçado de Nordschleife.

Foto de: Jason Vogel
Três passaportes e uma filosofia
A receita mistura engenharia alemã, design italiano e mecânica norte-americana. Sob uma tampa traseira de vidro, cercado por isolamento térmico dourado, canos de escape que lembram instrumentos de sopro e uma estrutura integral de fibra de carbono, trabalha um motor Ford V8 completamente retrabalhado pela Capricorn.
Sua base é o Coyote V8 de 32 válvulas DOHC, de 5 litros, usado nos Mustang, mas com uma grande dose de veneno. Com o aumento do diâmetro dos cilindros, a capacidade subiu para 5,2 litros. Além disso, o motor recebeu virabrequim, pistões e bielas forjados, lubrificação por cárter seco, nova central eletrônica e um compressor mecânico. Como resultado, rende mais de 900 cv de potência e 102 kgfm de torque, com limite de giro próximo das 9.000 rpm.

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Nada de tração integral, vetorização de torque ou câmbio automatizado de dupla embreagem. Aqui, temos tração traseira e câmbio manual, com cinco marchas, pedal de embreagem e alavanca em padrão dog-leg — aquele em que a primeira fica “para baixo e à esquerda”, lembrando carros de corrida clássicos.
Essa caixa é feita pela italiana CIMA (Costruzione Italiana Macchine Attrezzi), de Bolonha, que fornecia transmissões para a Fórmula 1 já nos anos 50. O trambulador é exposto sob uma grelha de alumínio escovado, digno das antigas Ferrari.

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A simplicidade é o maior luxo
Os bancos fixos ao monocoque lembram carros de competição e a LaFerrari. Para que o piloto vista bem o carro, tanto o conjunto de pedais quanto a coluna de direção dispõem de amplos ajustes. Mais do que isso: até a alavanca de câmbio pode deslizar 8 cm para frente ou para trás, permitindo que se encontre a posição ideal — um recurso inédito mesmo entre superesportivos modernos.
O Capricorn 01 é a antítese dos hipercarros digitais. Seu painel traz três instrumentos analógicos, com o conta-giros central em destaque, lembrando os protótipos de endurance dos anos 1970. O quadro de instrumentos é fixado diretamente na coluna de direção, garantindo leitura perfeita sem interferência do aro do volante.

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Tela multimídia sensível ao toque? Não há. O máximo que existe é uma telinha que sobe junto ao para-brisa quando a câmera de ré é acionada. Até a chave é “analógica”, à moda antiga: seu miolo é no console, perto da base da alavanca de marchas, lembrando um pouco aquelas velhas travas de câmbio.
Todos os comandos são usinados em titânio e alumínio, e o volante abriga apenas dois seletores físicos para os modos de condução: conforto, esportivo e pista. De resto, o acabamento combina couro Connolly e alcântara às superfícies metálicas expostas.

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Aerodinâmica integrada
A Zagato manteve seus traços inconfundíveis, como o teto “double bubble” (com duas bolhas na capota, acima dos bancos do motorista e do passageiro) e as proporções musculosas de um GT clássico. As portas são do tipo asa de gaivota, há um difusor traseiro funcional e dutos de ar moldados na fibra de carbono.
Em vez de apêndices e asas colossais, o downforce vem do efeito solo, com piso e difusor esculpidos para gerar sustentação negativa — uma escolha deliberada de filosofia.
“Nosso objetivo foi obter uma carga aerodinâmica constante e previsível, e não números extremos que tornem o carro nervoso de guiar”, explica o presidente da Capricorn, Robertino Wild.

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Até os retrovisores seguem a lógica do atemporal: nada de câmeras digitais.
“Elas envelhecem rápido. Queremos que esse carro continue belo daqui a 40 ou 50 anos, ao lado de um Bugatti ou de um Aston Martin antigo”, diz o designer-chefe da Zagato, Norihiko Harada.
A estrutura do 01 é totalmente feita em fibra de carbono, incluindo o monocoque central e os subchassis dianteiro e traseiro. Com menos de 1.200 kg de peso em ordem de marcha, o cupê é quase tão leve quanto um esportivo dos anos 1990. Há ainda um porta-malas dianteiro, com 110 litros de capacidade.
A suspensão tipo pushrod usa barras de torção e braços de comprimento desigual, com componentes da Bilstein, enquanto os freios são Brembo de carbono-cerâmica com pinças de seis pistões e ABS sob medida. Tudo do bom e do melhor.

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A assistência elétrica da direção atua apenas em baixas velocidades, para facilitar manobras, e se desativa totalmente em alta, garantindo feedback puro ao volante. Com essa combinação de leveza e potência bruta, o 01 acelera de 0 a 100 km/h em menos de 3 segundos e passa dos 350 km/h, dependendo da habilidade do piloto e da aderência dos pneus traseiros.

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O verbo dirigir
Serão apenas 19 unidades, referência direta ao 19 de abril de 1919, data de fundação da Zagato. Cada exemplar será montado artesanalmente nas instalações da Capricorn próximas a Nürburgring. De acordo com o fabricante, o modelo é homologado para a Europa, Reino Unido, Suíça, Japão, México, Canadá e Oriente Médio, mas não para o mercado dos EUA.
A empresa já admite planos para produzir futuras séries de 100 a 200 carros por ano, posicionando-se como uma espécie de “atelier técnico” para novos projetos de hipercarros de outras marcas — à semelhança de nomes como HWA ou Manifattura Automobili Torino (MAT).

Foto de: Jason Vogel
Para a Capricorn, o 01 Zagato é mais que um brinquedo de bilionário — é uma declaração de princípios. “Não queríamos entrar na corrida por números de potência ou tempos de volta”, afirma Wild. “Os hipercarros atuais estão tão pesados e cheios de eletrônica que o motorista virou um passageiro.”
O Capricorn 01 Zagato é para outro tipo de entusiasta: aquele que ainda quer ouvir o clique metálico do engate de marcha, o ronco cru de um V8 e sentir o cheiro do motor quente, logo atrás da cabine. Um carro feito para quem ainda acredita que dirigir é um verbo — não um algoritmo.
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