Está difícil acompanhar o ritmo de atualizações da indústria automobilística chinesa. Se um simples jornalista automotivo ocidental já fica meio desorientado, imagine o efeito que essa sucessão de lançamentos provoca nas fabricantes tradicionais, que tentam acompanhar a concorrência… É uma sequência de jabs, uppercuts, diretos e cruzados, sem direito a intervalo entre os rounds.
No Salão de Xangai de dois anos atrás, a Chery apresentou o Tiggo 9, um híbrido de sete lugares com 4,82 m de comprimento, topo de linha na série de SUVs da marca chinesa. Não demorou para que o modelo também fosse vendido no mercado local como Fulwin T10 – e exportado com o nome de Jaecoo 8 (ou J8).
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Fonte: Motor1 Brasil
Nesse meio-tempo, a companhia começou a fabricar outro utilitário, chamado Tiggo 8L ou Fullwin T9 – que, nos mercados de exportação, recebeu o nome de Tiggo 9. Percebeu a confusão?
Mas voltemos ao Tiggo 9 original, aquele topo de linha lançado em 2023. O modelo chegou a ser registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) brasileiro no ano passado. Também se cogitou vendê-lo aqui como Jaecoo 8 – uma ideia que voltou a ser estudada recentemente.

Chery Tiggo 9 (global) – Registro no INPI
E agora, no Salão de Xangai de 2025, a Chery já está mostrando um utilitário inteiramente novo chamado… Tiggo 9L! Na apresentação, disseram que é um “carro-conceito de produção em massa”, mas o modelo já parece estar quase pronto para entrar em linha. Não há previsão oficial para o início das vendas. Executivos da marca apenas sugerem que será em 2026.
Força da natureza
Chamado pela marca de “Natural Force Aesthetics”, ou “Estética das Forças da Natureza”, o estilo do Tiggo 9L aposta em uma carroceria angulosa e maciça. A exemplo do recém-apresentado Hyundai Palisade de segunda geração, o novo conceito da Chery está mais para um jipão do que para um crossover de asfalto.
A grade dianteira traz o nome CHERY iluminado em letras garrafais, acompanhado por um filete luminoso que conecta os faróis de LED dispostos em forma de H. A cintura é alta, com para-lamas e caixas de roda destacados por vincos. A traseira tem lanternas verticais, também em formato de H. Apesar de ainda ser um conceito e de um certo exagero na dianteira, o 9L tem visual mais sóbrio que o de muitos carros chineses fabricados em série.

Foto de: Motor1 Brasil
Esse “L” de “longo” no nome indica que o novo modelo é maior que o Chery Tiggo 9 convencional. E bota maior nisso: são 5,05 m de comprimento e 2,95 m de entre-eixos (a família Tiggo nunca teve um carro tão grande). A cabine é projetada para acomodar confortavelmente seis ou sete pessoas, em três fileiras de bancos. Há zonas de climatização independentes, telas de entretenimento para a segunda fileira e soluções pensadas para tornar longas viagens mais agradáveis para todos – e não apenas para o motorista.
Três grandes telas de LCD ocupam o painel de ponta a ponta. Câmeras permitem a chamada “visão de 540º”. Sim: os 360º convencionais, mais uma visão de 180º sob o carro, como se o 9L fosse invisível. Segundo a Chery, a inteligência artificial aprende os hábitos do motorista e personaliza o uso do carro.

Foto de: Motor1 Brasil
O processador Falcon 700 tem chips de 3 nm (nanômetros), o que representa uma das mais avançadas tecnologias de semicondutores disponíveis atualmente. O sistema gerencia tudo: desde o ar-condicionado até alertas biométricos, monitorando frequência cardíaca e sinais de fadiga. Suas assistências de condução permitem que o Tiggo 9L ande no piloto automático tanto na estrada quanto na cidade.
O 9L é equipado com um sistema híbrido de quatro motores: um 2.0 turbo a combustão e três motores elétricos. Projetado para tolerar combustíveis de baixa octanagem, o motor a combustão rende 272 cv. Ainda não há dados exatos sobre o conjunto dos motores elétricos.

Foto de: Motor1 Brasil
O que se sabe é que a Chery apresentou recentemente ao mundo sua nova tecnologia híbrida: a Kunpeng Hybrid Global Architecture, base que terá versões voltadas para diferentes tipos de veículos – desde os mais econômicos até modelos com foco em desempenho ou capacidade fora de estrada.
A Chery afirma ter aprimorado o motor a combustão, a transmissão automática de três marchas para híbridos (chamada de DHT) e as baterias. Mas o pulo do gato para a nova geração de modelos é a aplicação de carbeto de silício — um material mais eficiente para conduzir eletricidade e dissipar calor, cada vez mais usado em carros eletrificados chineses.

Foto de: Motor1 Brasil
Os módulos de potência são feitos com carbeto de silício, além de uma tecnologia de montagem chamada HPDmini. Na prática, o motor elétrico gera mais potência, consome menos energia e tem melhor resfriamento. As rodas traseiras se esterçam para reduzir o raio de giro nas manobras de estacionamento e permitir mudanças de direção mais rápidas e precisas em altas velocidades.
Outro destaque vai para a suspensão hidráulica ativa, gerenciada por inteligência artificial. O sistema é preditivo: detecta irregularidades à frente do veículo e ajusta a rigidez da suspensão antes de os impactos acontecerem, garantindo conforto e estabilidade em pisos ruins.